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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Eu sei que não é assim. Eu sei que as vezes, enquanto eu estiver falando sobre os benefícios ecológicos de se diminuir um elo na cadeia alimentar, você vai imaginar como seria bom ter uma namorada mais fútil e talvez mais magra.

Talvez não pense assim quando eu te fizer andar no shopping comigo o dia inteiro, entrando em todas as lojas e te pedindo opinião sobre todas as roupas que eu experimentar. Você vai pensar que preferia estar sozinho em casa vendo televisão. Durante as compras, a gente vai brigar porque você vai achar tudo curto demais, decotado demais, ou não vai conseguir entender como uma pessoa normal teria coragem de usar uma roupa daquela na rua. Eu vou te prometer que só vou usar aquele vestido com meia-calça por baixo, mas uma semana depois eu vou esquecer a promessa.

Eu vou ter desejo de capuccino num domingo à tarde e vou te pedir pra ir lá longe comprar pra mim. Seu rosto vai ficar todo vermelho de tanto eu cutucar suas espinhas inexistentes. Eu vou reclamar do Rio de Janeiro: do trânsito, do calor e de coisas que nem existem. Eu vou puxar o seu cobertor nas noites mais frias, além de continuar dormindo com a mesma posição torta, espaçosa e esmagadora de sempre.

Você vai viajar cinco horas pra me ver, chegar morrendo de saudade, mas eu vou estar no final de um livro muito interessante e vou te pedir pra esperar um pouquinho. Você vai se estressar. Depois eu vou tentar te convencer a ler o mesmo livro e você vai se estressar ainda mais. Alguns meses depois eu vou te encher o saco sem parar pra você devolver o meu livro que na verdade você nunca pegou e eu simplesmente perdi por aí. Você vai pensar que eu sou a pessoa que mais tem o poder de te estressar no mundo e isso é a mais pura verdade. Depois você vai socar a parede, machucar seu dedo e eu vou dar beijinho pra sarar.

Eu vou te convencer a cortar o seu cabelo do jeito que eu quiser e você vai acabar cedendo, mesmo achando péssimo. Você vai me pedir de joelhos pra não cortar o meu curto ou então não fazer luzes, mas eu não vou nem considerar o seu pedido. Aposto que aproximadamente 37.492 vezes você vai me pedir pra não passar esmalte preto ou vermelho no pé, mas essas sempre serão minhas duas cores preferidas e as que eu mais vou usar.

Você vai ficar com nojo de me beijar e sentir aquele gosto horroroso de cigarro. Você vai ter uma prova final às sete da manhã e eu vou te ligar de madrugada apavorada, achando que tem uma cobra no meu quarto. Você provavelmente vai perder o sono depois disso e se foder no outro dia.

As vezes eu vou tirar o "namorando" do orkut, simplesmente por questoes estéticas, mas isso vai fazer com que você pense mil coisas. Eu vou ficar o tempo todo criticando o seu orkut, vou querer escolher suas fotos e suas comunidades. Eu vou ter amigos que você vai odiar (provavelmente a maioria). Eu vou ter amigos que vão te odiar também.

Nas férias, quando você quiser viajar pra praia, eu vou fazer cara feia, porque tudo que eu vou querer é estar em alguma capital dormindo o dia todo e bebendo uma garrafa de vodka por noite. Eu vou vomitar várias vezes e vou ficar puta se você não me aujudar a limpar. Você vai ficar puto de ter que ajudar também.

Em média uma vez por mês, você vai viajar pra algum lugar pra ver um show de uma banda que você nem gosta ou nem conhece. E ainda vai ficar com vergonha dos meus gritos. Eu vou te dar e literalmente te obrigar a usar um Way Farer preto. Eu vou te fazer ir em mostras de cinema chatas, com filmes incompreensíveis e vou te olhar com desprezo, de sobrancelha levantada, se você ousar falar que achou aquele último curta uma merda.

Eu vou escolher as músicas que tocam no seu carro e vou aumentar o volume. Eu vou deixar lixo dentro do seu carro. Eu vou te pedir massagem no pé toda hora e sempre vou ter preguiça de retribuir. Você vai ficar horas esticando massa de taco pra trezentas mil pessoas e depois eu vou dizer pra todo mundo que fui eu que fiz, sendo que eu só piquei a pimenta do molho. Eu não vou com você em churrascarias e nem na Iracilda.

Você vai me pedir pra não fazer algumas coisas bobas, eu vou falar que tudo bem, depois vou fazer escondido, você vai descobrir e brigar comigo. Eu vou te fazer falar coisas por mim, fazer coisas por mim, vou ser contraditória e vou ter mudanças de humor constantes.

Você vai ser ver em inferninhos subterrâneos, abafados e cheios de fumaça, com pessoas que você não gosta e música que você não gosta. Vai pensar que daria tudo pra estar em outro lugar mais tranquilo, só tomando uma cervejinha com dois ou três amigos de infância. Mas quando eu espirrar e tampar meu rosto com uma garrafa verde de Heineken, você vai lembrar de milhões de coisas, sem querer vai dar um sorriso e esquecer disso tudo.

Vou te acusar de ciumento excessivo, sendo que no fundo eu também sou. As vezes, quando eu estiver bêbada, eu vou falar no meio de uma briga que você não faz absolutamente nada por mim. Segundos depois eu vou me arrepender, mas você não vai me desculpar tão fácil, porque na mesma briga eu vou ter citado desnecessariamente alguns ex-namorados.

Até aí é até simples, o problema é que eu também odeio quase tudo que você faz e provavelmente vou continuar odiando. Mas o que ninguem vai entender é que se nossas incompatibilidades são as maiores do mundo, então nosso amor também é, porque ele sempre foi capaz de passar por cima de tudo isso e fazer com que a gente continuasse junto. E é só isso que eu sempre quis e ainda quero.

Aos poucos tudo isso vai mudando, com sacrfícios ou não. Quando a gente olhar pra trás vamos sentir orgulho do que a gente construiu juntos e não vamos conseguir nos imaginar mais felizes do que naquele exato momento. Você tem ideia do quão raro é isso? Vamos sentir que tudo valeu a pena, porque na verdade tudo que a gente precisava mesmo é ficar um do lado do outro e perto disso todas as incompatibilidades simplesmente somem.